Pesquisadores bolivianos descrevem possível nova espécie de tarântula

out 27, 2022Notícias, Projeto Bioamazônia

A pesquisa será submetida para publicação numa revista especializada, e propõe-se que a espécie seja denominada Hapalotremus otcai, em reconhecimento do apoio recebido da OTCA.

Na Bolívia, os pesquisadores descrevem uma provável nova espécie de tarântula para a ciência. A descoberta foi possível com base nos resultados do estudo “Diagnóstico do impacto do tráfico ilegal de espécies sobre as populações de invertebrados na Bolívia”, solicitado pela Secretaria Permanente da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (SP/OTCA), em coordenação com a Direção Geral de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente e Águas do Estado Plurinacional da Bolívia.

Esta consultoria resultou em um “Diagnóstico da situação atual das populações de teraphosidae (tarântulas) na Bolívia e o impacto do tráfico ilegal no grupo”, possibilitando ampliar o conhecimento sobre a distribuição destas espécies, bem como a descoberta de novas espécies para a ciência.

Para os pesquisadores responsáveis pela descrição da espécie ─, Juan Fernando Guerra Serrudo, associado de pesquisa da Coleção Fauna Boliviana e do Museu Nacional de História Natural, e Natalie Herrera, pesquisadora do Museu de História Natural de La Paz ─, o grupo de terapóides é um dos mais desconhecidos e fascinantes devido a sua morfologia, comportamento e interação com outras espécies.

Uma vez concluída a descrição e a análise morfológica das novas espécies potenciais, o trabalho será submetido a uma revista científica credenciada. Uma vez publicado, o nome sugerido ─ Hapalotremus otcai ─ em homenagem à OTCA será oficializado, e se tornará parte da conhecida biodiversidade da Bolívia.

 

Tarântulas na Bolívia

O Estado Plurinacional da Bolívia é considerado um dos 15 países megadiversos; contudo, ainda é limitado o conhecimento sobre biodiversidade, e os esforços em termos de pesquisa e inventários têm se concentrado principalmente em vertebrados e plantas superiores.

O Livro Vermelho dos Invertebrados da Bolívia (MMAyA 2020) considera que existam 70 espécies sob algum tipo de ameaça; contudo, leva em conta apenas três ordens de insetos (Coleoptera, Hymenoptera e Lepidoptera), revelando a existência de um conhecimento preliminar ou circunstancial do estado de conservação dos invertebrados na Bolívia. Entretanto, das espécies incluídas neste primeiro documento, quatro espécies invertebradas estão categorizadas na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestre (CITES).

A família Theraphosidae, subordem Orthognatha (Mygalomorphae), comummente chamada tarântulas, reúne muitos taxas tropicais e subtropicais conhecidas como migalas, rosa chilena, tarântulas, apasankas, pasankas, qampu kusi-kusi e qampu. Segundo o catálogo Mundial de Aranhas 2021 de Platnick[1], são conhecidas mundialmente cerca de 1010 espécies atribuídas a 152 gêneros.

Ainda são escassos os estudos na Bolívia. Simon (1892) descreveu a primeira espécie, a Lasiodora boliviana. Posteriormente, em 1903, o mesmo autor descreveu os albipes de Hapalotremus, e mais tarde, Strand (1907) descreveu três espécies de tarântulas para o vale de Sorata e a cordilheira. Shiapelli & Gerschman (1962) citam três espécies de Theraphosidae para o país, e Galiano (1979) menciona duas espécies de Salticidae. Hoffer & Brescovit (1994), numa expedição realizada em Julho de 1993 nos departamentos de La Paz e Beni, publicaram uma lista de 41 famílias e 396 espécies. Outras espécies continuaram a ser descritas por diferentes investigadores até 2021.

Guerra (2020), numa reportagem na Revista Escape do jornal La Razón[2], adverte sobre o comércio ilegal de espécies bolivianas. Contudo, pode ser estimado que pelo menos 50 espécies de tarântulas são encontradas na Bolívia, como demonstrado em vários estudos de 2014 a 2021.

Segundo o diagnóstico realizado, com o apoio do Projeto Bioamazônia da OTCA, as principais ameaças para os Theraphosidae são a perda de habitat, a degradação do habitat, a sobre-exploração da vida selvagem, o impacto dos agroquímicos, e as alterações climáticas.

Neste trabalho, foi preparada a informação sobre a família Theraphosidae, tendo sido feitos diagnósticos sobre o estado atual das populações das diferentes espécies de tarântulas na Bolívia e o nível de impacto do tráfico ilegal no grupo, bem como uma lista de espécies sujeitas ao tráfico e fichas técnicas para cada espécie e as ameaças a cada táxon.

Bolívia é um centro de distribuição oro-hidrográfica, onde há um número infinito de ambientes que acolhem espécies de Theraphosidae, várias das quais são consideradas endémicas. Das 32 espécies de Theraphosidae presentes na Bolívia, 15 são encontradas em outros países e 17 são endémicas do país. Das 32 espécies de tarântula, 15 são oferecidas em diferentes websites e várias delas são criadas em cativeiro, demonstrando o impacto do tráfico de espécies Theraphosidae, não só na Bolívia, mas também a nível continental.

*Com informação do Diagnóstico de los Theraphosidae de Bolívia – Propuesta Plan de Acción de los Invertebrados de Bolívia (em espanhol).

Publicado no Boletim Bioamazônía, edição n. 17 setembro-outubro 2022.

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[1] https://wsc.nmbe.ch/family/100/Theraphosidae

[2] https://www.la-razon.com/escape/2020/07/01/tarantulas-bolivianas-a-la-venta-en-internet/

 

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