Entrevista com José Kaeté, autor de “Mergulho”
Fotografia: Mergulho (2019)
Local: Aldeia Piyulaga, Território Indígena do Xingu – Mato Grosso, Brasil
José Kaeté, indígena tupinambá do Pará, da região amazônica do Brasil, descobriu sua paixão pela fotografia ainda na infância, experimentando câmeras emprestadas de amigos e familiares para explorar esse universo. Sem conhecimento técnico formal no início, sua trajetória fotográfica foi marcada por idas e vindas, conforme conseguia acesso a equipamentos. Hoje, a fotografia segue sendo um hobby importante em sua vida, algo que pratica sempre que tem a oportunidade, mesmo sem ser sua principal profissão.
A fotografia como meio de educação e desconstrução de estereótipos sobre a Amazônia
“Eu percebia que as pessoas tinham um estereótipo muito grande sobre a região amazônica e sobre povos indígenas. E foi por isso que eu decidi usar tanto a foto quanto o vídeo pra educar as pessoas que existem diferentes contextos na Amazônia. Que nem todo mundo é igual, que as coisas não é igual, que a natureza não é igual, que as pessoas não são iguais. Assim, eu diria que essa vontade de querer mostrar para as pessoas os diferentes contextos da Amazônia e educar elas é o que me motiva a fazer fotos e vídeos. “
Conexão entre fotografia, natureza e cultura indígena
“A fotografia Mergulho foi tirada no Mato Grosso, na Terra indígena do Xingu. Eu fui convidado para participar de uma festa tradicional lá chamada Quarupi, que é uma festa que encerra o luto. E aí eu estava com uma câmera nessa época, fui para lá passar 15 dias na casa de uns amigos na aldeia. E essa pessoa que aparece na foto foi o meu grande amigo, eu fiz essa grande amizade durante o período que eu estava lá. Assim como para vários povos indígenas, o banho é uma coisa muito sagrada. A Lagoa onde a gente fez a foto é uma Lagoa sagrada para esse povo. Eles acreditavam que tomar banho de manhã cedo, com água gelada, te afastaria várias doenças.”
O papel da fotografia na sensibilização e mobilização para a luta climática
“Através da fotografia a gente consegue trazer aliados para nossa luta por meio da beleza. Acho que a comunicação de mudança climática está muito baseada no medo, e isso acaba afastando as pessoas y deixando as pessoas sem esperanças. Mas quando você mostra a beleza, você pode conquistar as pessoas para lutarem junto com você. Então, eu gosto de usar a fotografia, o vídeo, para mostrar o que a gente tem de bonito hoje em dia para transformar através do amor no coração das pessoas. Que elas se alinhem a essa causa para que a gente não perca isso e que comecem a lutar junto com a gente. Então acho que a fotografia, ela não é só para mostrar o lado ruim do que está acontecendo, mas as coisas boas, principalmente.”

José Kaeté é indígena Tupinambá do Pará, engenheiro, comunicador popular e criador de conteúdo viajante. Com mais de 10 anos de experiência, dedica-se a mostrar diferentes perspectivas sobre a Amazônia e seus povos, utilizando suas redes sociais para promover um ativismo responsável. Ao longo de sua carreira, tem trabalhado em diversas regiões e comunidades da Amazônia Brasileira, atuando desde a preservação da biodiversidade até campanhas de impacto na indústria do cinema. Seu trabalho é uma combinação de ativismo, comunicação e conscientização ambiental.