Enlaçador de mundos
Sentado no chão assoalhado de madeira da casa do neto na aldeia, o xamã do povo Apurinã, Camilo Matoma, inala rapé (awiri) com seu “mixikano” de gavião-real (Harpia harpyja). O rapé é uma mistura de folhas de tabaco (cultivado nos roçados) com cinzas da casca de uma espécie de árvore (akutãta) que habita as florestas de terra firme da região do Médio rio Purus. Utilizado nos rituais pelos xamãs em conjunto com folhas de coca cultivada (Erythroxylum sp.), o uso cotidiano de rapé tornou-se uma prática comum entre os jovens no contexto da luta pela demarcação das Terras Indígenas na década de 1990. Essa aliança ancestral entre gente e (espíritos) tabaco é uma via de mão dupla. Por um lado, trata-se de um interessante processo de domesticação vegetal; por outro, trata-se de uma relação que aciona a “cosmopolítica” dos Apurinã com os seres da floresta.
Ano
2019
Local
Estado de Amazonas, Pauini (AM)
Categoria
Fotografia documental
Prêmio
Selecionada