Entrevista com Jaime Venegas, autor de “Una Mirada”
Fotografia: Una mirada (2022)
Local: Ecuador- Amazônia Equatoriana – Shiguakucha
Jaime Venegas Gavilanes é um fotógrafo e cineasta equatoriano cuja trajetória artística nasceu como um processo de autodescobrimento. Desde seus primeiros contatos com a fotografia, aos 15 anos, encontrou no autorretrato uma forma de se explorar e construir sua identidade visual. Com o tempo, seu olhar evoluiu para uma abordagem documental, na qual a fotografia se tornou um meio para conectar-se com as pessoas, os espaços e a própria vida.
A fotografia Una mirada foi tirada na comunidade Shiguakucha, uma comunidade afetada por derramamentos de petróleo. Jaime viajou como voluntário para socializar com os moradores sobre os perigos do consumo de água contaminada com petróleo. Durante a iniciativa, também foram realizados workshops sobre hortas e instalados filtros para captar água da chuva, permitindo à comunidade ter acesso a outra fonte de água potável.
“A fotografia Una Mirada surgiu quando encontrei um menino simpático que já havia conhecido antes, pois eu o ensinei a fazer estrelas e mortais, já que gosto muito de ginástica. Quando nos reencontramos, ele estava com seu papagaio no ombro, levando-o para todos os lugares. Foi curioso porque, ao fotografar o pássaro, o olho do menino apareceu atrás, e achei muito bonito como parecia que ambos se tornavam um só. Mais tarde, ao dar uma leitura mais profunda e conceitual, percebi que a imagem representa essa parte vulnerável da vida: o menino e o papagaio enfrentando juntos as mudanças que estão acontecendo hoje.”
Interesse por temas ambientais e dos povos indígenas através da fotografia
“Minha mãe sempre me ensinou a respeitar a natureza, os animais e a ter um estilo de vida mais consciente, menos invasivo e prejudicial ao meio ambiente. A partir disso, surgiu minha vocação para entender melhor as questões ambientais, o que acontece no meu país, na minha terra natal, Guaranda, e, em particular, no Páramo de Chimborazo e nas comunidades indígenas afetadas.”
“As comunidades indígenas têm uma cosmovisão diferente e se organizam de maneira completamente distinta. Nessas comunidades, a ideia é que todos os seres são um. Eles consideram as plantas, os animais e as pessoas como parte de um todo.”
A fotografia e o cinema como ferramentas de transformação
“A prática artística é uma ferramenta poderosa para comunicar e criar relações muito mais íntimas com as pessoas. Mais do que apenas produzir uma obra audiovisual, sinto que a arte ajuda as pessoas não apenas a se transformarem em relação ao outro, mas também a passarem por uma transformação pessoal. Isso abre uma possibilidade muito bonita de autodescobrimento. Além disso, a questão ambiental é fascinante porque, desde os primórdios da fotografia, essa arte tem nos permitido conhecer realidades com as quais não temos contato e acessar a sensibilidade de quem está por trás da câmera. Entender o processo por trás da criação de uma fotografia que vai além da estética, que tem um significado mais profundo, é algo muito valioso.”
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Jaime Aníbal Venegas Gavilanes é um destacado investigador, videoartista, cineasta e fotógrafo equatoriano, com vasta experiência em projetos artísticos que exploram temas sociais e ambientais, especialmente na fotografia e no vídeo documentais. Possui mestrado em cinema pela Universidade Iberoamericana do México, e sua formação acadêmica inclui estudos na Pontifícia Universidade Javeriana e no Instituto Superior de Cinema e Atuação (INCINE).
Ao longo de sua carreira, Jaime recebeu importantes prêmios, como o Prêmio Internacional FAO Mountain Day (2020) e o Prêmio David Ross (2024) no México, pelo seu projeto Oppo ImagineIF. Ele também foi vencedor do primeiro lugar no concurso Oficios de la Ciudad de Guaranda e conquistou o Prêmio do Júri no programa Ibero Exchange, em reconhecimento ao seu trabalho com comunidades na Colômbia.
Jaime tem desenvolvido projetos em diversos países, como México e Colômbia, com destaque para sua recente pesquisa sobre personagens emblemáticos da Cidade do México. Além de seu trabalho artístico, ele ministra oficinas de cinema em clínicas de reabilitação, utilizando a sétima arte como ferramenta terapêutica para a transformação pessoal e social.