Entrevista com Joyce Anika, autora de “Garimpo é crime”
Fotografia: Garimpo é crime (2022)
Local: Acampamento Tierra Libre, Brasilía, Brasil
Joyce Anika é uma jovem indígena da região amazônica, natural do estado do Amapá, e pertence ao povo Karipuna, no norte do Brasil. Aos 23 anos, sua trajetória no movimento indigenista começou em 2020, quando participou de um programa do governo em um curso de comunicação para jovens indígenas, onde foi apresentada à fotografia e logo se apaixonou pela arte de capturar momentos e contar histórias por meio das imagens. Em 2021, teve a oportunidade de participar do Acampamento Terra Livre (ATL) em Brasília, representando a associação indígena de seu povo, a AIKA. Naquele momento, a luta era contra a exploração do ouro e o garimpo, especialmente nas terras Yanomami.
“Não foi apenas uma fotografia, mas um testemunho da nossa resistência.”
“No ATL, um dos momentos mais marcantes foi uma marcha onde os participantes levaram blocos de isopor representando ouro, cobertos com marcas de mãos e sangue, simbolizando o impacto destrutivo do garimpo. Esse momento foi um marco para mim como fotógrafa, pois percebi o poder da imagem na nossa luta. Pensei em todos os parentes, na minha própria terra, o Amapá, que sempre foi um ponto de exploração de ouro devido à sua fronteira com a Guiana Francesa. Foi uma cena muito forte, e decidi registrá-la.”
“Me descobri na fotografia registrando o movimento contra o garimpo, que marcou não apenas os parentes de todo o Brasil, mas especialmente o Amapá, região afetada pela exploração do ouro. Meu povo convive com essa realidade há muito tempo. Aqui, temos três terras indígenas e quatro povos, Galibi Marworno, Galibi, Palikur e Karipuna, cada um com sua língua, mas todos afetados pelo garimpo. Essa atividade traz não apenas destruição ambiental, mas também tráfico, prostituição e aumento da criminalidade. Nos solidarizamos com os Yanomami, pois entendemos o impacto devastador do garimpo. Por trás daquela imagem, há um contexto histórico de anos de luta e repetidas violações. Denunciamos todos os anos a invasão de garimpeiros ilegais nas terras indígenas, mas muitas vezes não somos ouvidos. O registro que fiz naquele ato, na manifestação do Acampamento Terra Livre de 2021, não foi apenas uma fotografia, mas um testemunho da nossa resistência.”
A fotografia como ferramenta de resistência
” A fotografia, para mim, é uma forma de expressão, não apenas um registro de tempo. Ela é um transmissor que a gente utiliza pra que vocês consigam ver. E a essência do que a gente através dos nossos olhos. Nossas lentes são nossos olhos no território e, quando registramos um ato que nos fere, que prejudica a natureza, isso vai além de um grito, ele se torna um discurso em formato de imagem. E, a conexão com a natureza vai muito além do que ela pode nos oferecer. Ela é nossa parente e, quando é ferida, sinto que está doente. Estamos falando cada vez mais sobre as mudanças climáticas e, nesse contexto, o audiovisual e a fotografia têm sido ferramentas de luta, tanto para levar informação aos territórios quanto para mostrar que problemas como a exploração do garimpo não são isolados. Através das imagens, conseguimos denunciar, conscientizar e amplificar nossa voz”.
Visibilizando a luta indígena
“Desde 2021, passei a trabalhar com outras organizações indígenas da Amazônia, como a COIAB e a APOIANP. Utilizo a fotografia, a produção textual e audiovisual para registrar nossas lutas contra as mudanças climáticas, a exploração ilegal e pela demarcação de terras. Esses registros não só levam informação para os territórios, mas também amplificam a nossa voz (…) fortalece ainda mais a luta indígena e a comunicação feita por nós, mostrando que estamos aqui e sempre estivemos.”
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Joyce Aniká é indígena do povo Karipuna, do estado do Amapá. Graduanda em Letras – Português e Francês pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), atua como fotógrafa, comunicadora e artista. Seu trabalho está voltado para a valorização e visibilidade das culturas indígenas, contribuindo ativamente com associações indígenas no norte do Amapá. Através da fotografia, da arte e da comunicação, busca fortalecer as vozes dos povos indígenas e promover a preservação de suas identidades.