Entrevista com Thiago Yawanawá, autor de “Festival Mariri Yawanawá”
Fotografía: Festival Mariri Yawanawá (2024)
Local: Território Indigena do Povo Yawanawá, Rio Gregorio
Thiago Yawanawá, do povo Yawanawá, no Acre, iniciou sua trajetória na fotografia ainda na infância, inspirado por seu pai, Tashká, que saiu da aldeia muito jovem e que trabalhou com audiovisual e trouxe esse conhecimento de volta para a aldeia. Desde pequeno, Thiago demonstrou curiosidade pelos equipamentos de seu pai, aprendendo a usá-los na prática, sem frequentar cursos formais. Com o tempo, passou a registrar momentos da vida em sua comunidade e a compartilhar essas imagens dentro e fora do Brasil. Embora tenha outras ocupações, a fotografia sempre esteve presente em sua trajetória.
O Festival Mariri Yawanawá e a tradição dos guerreiros
“A fotografia Festival Mariri Yawanawá foi registrada em um momento muito especial, mas também desafiador. Ela foi tirada em 2024, durante o festival Mariri Yawanawá, que acontece na aldeia Mutum. O festival dura cinco dias e reúne todas as aldeias do território Yawanawá, reúne todos os povos para celebrar a vida, a comida, a dança e fortalecer os laços entre as famílias. Durante esses cinco dias, há brincadeiras diárias. A foto retrata uma brincadeira tradicional de guerra, na qual os guerreiros lançam lanças uns contra os outros. No passado, essas lanças eram afiadas, mas hoje são cortadas para evitar ferimentos. O objetivo é desviar e agarrar a lança no ar.
É uma disputa para os guerreiros da aldeia, um teste de reflexos, onde devem desviar e pegar a lança com as mãos. Os homens ficam frente a frente, cada um de um lado, lançando a lança ao mesmo tempo. Enquanto eles duelam, suas esposas permanecem atrás deles, confiando que o guerreiro não permitirá que ela se machuque. Capturar essa imagem foi um grande desafio, pois tudo acontece muito rapidamente. É uma das brincadeiras mais difíceis do povo Yawanawá.”
A fotografia como ferramenta de luta e sensibilização
“Hoje, os povos indígenas do Brasil e do mundo utilizam a imagem, a fotografia e o audiovisual como uma ferramenta de luta, uma lança, para compartilhar nossas histórias e comunicar nossas realidades ao mundo. As imagens nos permitem sensibilizar sobre temas urgentes, como as mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade. Elas combinam arte e narrativa visual para despertar emoções e gerar empatia, ajudando a superar barreiras linguísticas e culturais.
A fotografia evidencia as transformações nos territórios indígenas e destaca a sabedoria ancestral dos povos, reafirmando nosso papel como guardiões essenciais da biodiversidade. Além disso, tem um impacto político, mobilizando ações públicas e conscientizando a sociedade sobre a importância de proteger as florestas e respeitar as culturas tradicionais. Como ferramenta de ativismo visual, a fotografia pode provocar reflexões profundas sobre a crise climática.”
A importância da participação indígena em espaços internacionais
“Em 2024, participei da COP16 de biodiversidade na Colômbia. Foi incrível ver como os povos indígenas ocuparam esse espaço, havia representantes da Colômbia, Equador, Brasil, Venezuela e outros países. Todos estavam ali para discutir sobre como é que são que se protege a biodiversidade dos seus territórios. A
COP29 e outras edições da Conferência do Clima têm sido desafiadoras, pois muitas vezes ocorrem em locais distantes e de alto custo. Ainda assim, os povos indígenas continuam marcando presença nesses espaços, lutando por seus direitos e acompanhando as negociações. Infelizmente, muitos governos não fazem consultas prévias aos povos indígenas antes de tomar decisões que os impactam. Por isso, estar presente nesses fóruns, espaços, tá ali é onde não só os indígenas brasileiros, mas outros indígenas ao redor do mundo estão lá, marcando presença e sabendo o que que está acontecendo com as negociações.”
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Thiago Yawanawá – Tuikuru é membro do povo Yawanawá, da Terra Indígena do Rio Gregório, no Acre. Gestor de marketing, social media, designer, fotógrafo e produtor executivo, é graduando em Administração e atua no desenvolvimento de projetos de etnoturismo comunitário junto ao seu povo. Além disso, trabalha com comunicação colaborativa para o movimento indígena e, atualmente, coordena a bancada do Bocar, contribuindo para a articulação e fortalecimento das vozes indígenas.