Entrevista com Álvaro de Souza, autor de “Cotidiano”
Fotografia: Cotidiano (2013)
Local: Rio Iriri, Pará, Brasil
Álvaro de Souza é artista visual, fotógrafo e ator de teatro, nascido em Oriximiná, na Amazônia brasileira. Desde cedo, sua trajetória foi marcada pelo olhar atento às imagens e pelas artes cênicas. Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará e em Turismo pela UNAMA, ao longo dos anos morou em diversas cidades no Brasil e no exterior, incluindo Portugal, mas sempre manteve sua conexão com a Amazônia. Atualmente, vive em um flutuante às margens do rio, próximo à casa de seus pais, e se dedica ao teatro como ferramenta de transformação social. Para ele, a fotografia, o teatro e a arte são formas de registrar, sensibilizar e transformar a realidade ao seu redor.
Durante vários anos, trabalhou em um projeto da Universidade Federal relacionado à construção da hidrelétrica de Belo Monte, uma obra de grande impacto no Rio Xingu. Seu trabalho estava voltado para o estudo dos impactos socioambientais da hidrelétrica, mas, paralelamente, encontrou na fotografia uma forma de contemplar e registrar a vida cotidiana dos pescadores e as transformações na paisagem amazônica. Esse olhar sensível resultou em um vasto acervo de imagens que documentam a relação entre a natureza e as comunidades da região.
“Essa foto [Cotidiano] me chamou atenção porque estávamos estudando o impacto da construção de uma grande hidrelétrica, uma obra tecnológica gigantesca, no Rio Xingu. E, no meio dessa transformação, havia uma mulher lavando suas panelas no rio, vivendo seu cotidiano sem imaginar as mudanças que essa hidrelétrica traria. A tecnologia modificou muita coisa na região, mas as pessoas ainda vivem como suas bisavós viviam. Esse contraste me impactou: nós estávamos ali, realizando pesquisas científicas, enquanto essa mulher seguia sua rotina como sempre.”
“Mesmo em comunidades ribeirinhas ou aldeias indígenas, as pessoas têm celulares e acesso às redes sociais. A imagem tem um poder imenso de comunicação. (…) Acredito que um trabalho de educação ambiental utilizando fotografia e vídeos poderia chamar atenção para essa realidade. Se divulgarmos essas imagens nas redes sociais, podemos conscientizar as pessoas de que elas fazem parte do problema — e da solução. A fotografia tem essa força de sensibilização e pode ser uma grande aliada na educação ambiental.
“Acredito que, quando temos algo positivo a dizer, isso pode gerar impacto. Essa vivência me trouxe uma nova visão e um novo pensamento sobre o lugar onde estou agora. Meu propósito é viver aqui, sair pelo mundo para visitar amigos e conhecer novos lugares, mas sempre retornar e transformar o meu conhecimento em trabalho e arte”.
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Álvaro de Souza nasceu em Oriximiná, Pará, e construiu uma trajetória marcada pela arte, pelo teatro e pela conexão com a Amazônia. Formado em Turismo e Artes Visuais, com especialização em teatro, atuou como ator, produtor, figurinista e cenógrafo, apresentando-se no Brasil e no exterior, incluindo Canadá, Alemanha, EUA e Portugal. Após anos de viagens e experiências artísticas, retornou à Amazônia, onde dirige e ensina teatro no Projeto Tecendo Histórias, auxiliando jovens em situações de vulnerabilidade. Além disso, colabora com pesquisas sobre a ictiofauna no Rio Xingu e mantém seu olhar artístico por meio da fotografia e das artes plásticas, registrando a vida e os desafios da Amazônia, sua terra natal.