Bolívia estabelece redes de monitoramento para a gestão sustentável dos aquíferos que abastecem mais de 1,5 milhão de habitantes da bacia do rio Madeira.

dez 21, 2023NOTICIAS SITE, Projeto Bacia Amazônica

 

 

Os olhares atentos de 132 crianças lotavam a ampla sala da Unidade Educativa San Jacinto, uma escola da cidade de Sacaba, localizada na Amazônia boliviana. Diante delas, desfilaram imagens representando o ciclo da água e sua importância para a vida, convidando-as a cuidar desse recurso natural que pode se tornar escasso para seus múltiplos usos devido à poluição, à degradação ambiental e às mudanças climáticas. Essa atividade fez parte da socialização de crianças e adultos para a promoção do cuidado com a água, um processo que foi implementado no âmbito do projeto “Estabelecimento de Redes de Monitoramento da Quantidade e Qualidade das Águas Subterrâneas em Importantes Aquíferos Urbanos da Bacia do Rio Madeira”.

 

Bolívia estabelece redes de monitoramento para a gestão sustentável dos aquíferos que abastecem mais de 1,5 milhão de habitantes da bacia do rio Madeira.

Socialização de crianças na Unidade Educativa San Jacinto em Sacaba

 

Tendo chegado à sua fase final, o projeto agora conta com redes de monitoramento totalmente estabelecidas em dois aquíferos imersos na bacia do rio Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas. Neste mês de dezembro, os equipamentos de monitoramento começaram a operar com o objetivo de fornecer dados sobre a quantidade e a qualidade das águas subterrâneas que abastecem uma população de quase 1,5 milhão de pessoas na cidade de Santa Cruz de la Sierra e cerca de 172 mil pessoas no município de Sacaba.

O estabelecimento de redes de monitoramento de aquíferos na bacia amazônica, como as de Santa Cruz e Sacaba, é uma das ações estratégicas que estão sendo implementadas para fortalecer a Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH) na Amazônia. A ação faz parte do Programa de Ações Estratégicas (PAE), acordado em 2017 pelos países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e atualmente em fase de implementação por meio do Projeto Bacia Amazônica (OTCA/PNUMA/GEF).

A intervenção na Bolívia é coordenada pela Direção Geral de Limites e Águas Internacionais Transfronteiriças do Ministério das Relações Exteriores e conta com a supervisão técnica do Ministério do Meio Ambiente e Água (MMAyA), por meio da Unidade de Estudos Especiais da Direção Geral de Planejamento. Também participam da intervenção o governo e algumas cooperativas de Santa Cruz de la Sierra e os municípios de Sacaba e os sub-municípios de El Abra e Tunari.

 

Proteção, gestão sustentável e uso racional das águas subterrâneas

Os dados gerados pelas redes de monitoramento de Santa Cruz de la Sierra e Sacaba possibilitarão o estabelecimento de políticas para a proteção dos sistemas aquíferos e sua gestão adequada e sustentável, identificando sinais de superexploração ou possível contaminação. Além disso, com essas informações, será possível planejar o uso eficiente dessas águas, projetando e prevendo alternativas para atender à demanda por água potável.

Bolívia estabelece redes de monitoramento para a gestão sustentável dos aquíferos que abastecem mais de 1,5 milhão de habitantes da bacia do rio Madeira.

Os pontos cinzas indicam os poços existentes nos dois aquíferos e os pontos verdes integram as redes de monitoramento de Santa Cruz de la Sierra e Sacaba

 

Ao mesmo tempo, as informações derivadas das redes de monitoramento serão incorporadas ao Sistema de Informações sobre Águas Subterrâneas da Bolívia (SIASBO), que foi projetado para armazenar dados técnicos sobre poços, geofísica, nascentes e monitoramento de qualidade e quantidade. Em nível regional, essas redes farão parte do Centro Regional de Gestão de Águas Subterrâneas para a América Latina e o Caribe (CeReGAS), uma referência na articulação de capacidades nacionais e regionais para a geração e transferência de conhecimentos relacionados à gestão, proteção e promoção do uso racional e sustentável das águas subterrâneas.

As redes também fornecerão dados para o Observatório Regional Amazônico (ORA) da OTCA, que é um centro de referência para informações científicas e tecnológicas regionais sobre a Amazônia.

 

Formação e funcionamento da rede de monitoramento

Para estabelecer a rede de monitoramento em Sacaba, o projeto construiu três piezômetros, dispositivos que medem e controlam o nível da água, e incorporou poços inativos ou abandonados. “Nesses poços, que não eram mais operados pela Empresa Prestadora de Serviços de Água e Saneamento (EPSA), comprovamos que era possível medir e controlar a quantidade de água no aquífero”, relata a supervisora técnica do projeto, a engenheira Beatriz Canaviri, do MMAyA.

“Alguns poços antigos foram equipados com sensores automáticos que armazenam dados sobre a quantidade e a temperatura da água.  Esses dispositivos transferirão os dados para os sistemas de informação em horários específicos por meio de software. Para medir o lençol freático, serão usadas sondas piezométricas portáteis”, explica a hidrogeóloga Fabiola Zavala, gerente técnica da intervenção.

 

Bolívia estabelece redes de monitoramento para a gestão sustentável dos aquíferos que abastecem mais de 1,5 milhão de habitantes da bacia do rio Madeira.

A hidrogeóloga Fabiola Zavala usa um sensor automático para medir um poço em Santa Cruz de la Sierra.

 

Para os estudos de qualidade da água do sistema aquífero Sacaba, foram considerados os poços em produção, uma vez que as amostras para análise devem conter água doce.

No caso do sistema aquífero de Santa Cruz de la Sierra, a rede de monitoramento existente foi ampliada com a construção de três piezômetros dotados de sensores automáticos. Esses dispositivos irão analisar inclusive as águas rasas, uma vez que, de acordo com dados anteriores ao estabelecimento da nova rede de monitoramento, as águas subterrâneas de Santa Cruz, em seus níveis mais rasos, estão contaminadas. Isso levou muitas EPSAs a extrair água potável dos níveis mais profundos do aquífero.

No total, o projeto construiu seis piezômetros  e instalou dez sensores nas duas redes de monitoramento. A instalação de um dos piezômetros foi realizada na Unidade Educacional San Jacinto, possibilitando um programa educacional e de conscientização para alunos e professores para promover o cuidado com a água. Os dados coletados pelos equipamentos serão monitorados e incorporados mensalmente ao Sistema Boliviano de Águas Subterrâneas (SIASBO).

 

 

Capacitação técnica

Após a conclusão da implementação da rede de monitoramento, foi iniciado o treinamento técnico sobre como usar e gerenciar os sensores automáticos e como interpretar, compilar e transferir os dados armazenados em seu software para os sistemas de monitoramento regional.

De acordo com a hidrogeóloga Zavala, o treinamento e a atualização técnica devem ser permanentes e direcionados a instituições governamentais, organizações não governamentais e EPSAs: “Ao fortalecer as capacidades desses atores, esperamos melhorar a tomada de decisões, promover a implementação de políticas e estratégias baseadas em evidências e incentivar a participação ativa da sociedade na gestão e conservação dos recursos hídricos”, concluiu.

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