Equador reúne especialistas em Gestão Integrada de Recursos Hídricos e representantes de comunidades indígenas amazônicas para formular recomendações à implementação do PAE
Carlota Toca e Cawo Boya, duas mulheres líderes indígenas do povo Waorani, chegaram a Quito um dia antes do início da Oficina Nacional de Implementação do PAE, evento realizado nos dias 30 e 31 de maio com o objetivo de promover a participação coletiva na formulação de ações específicas para a gestão das águas amazônicas no Equador. No grande salão do edifício do Ministério das Relações Exteriores e Mobilidade Humana, onde aconteceu a oficina, as duas lideranças montaram uma mesa para a exposição de peças de artesanato tradicionalmente confeccionadas pelas mulheres waorani. No entanto, a atuação de Carlota e Cawo nos seguintes dois dias de oficina não se restringiu à comercialização de seus produtos. Elas participaram ativamente das discussões promovidas pelo grupo de cultura e educação e da capacitação de gênero, além de terem apresentado uma dança tradicional de seu povo na solenidade de abertura do evento.
“Estou participando desta oficina para poder melhorar e ajudar minha comunidade e todas as comunidades indígenas da Amazônia equatoriana. Quero que todas vivam bem. Por elas e para elas, estamos desempenhando aqui um papel importante para o fortalecimento do cuidado com a água na região”, enfatizou Carlota durante a sua primeira intervenção na oficina, na qual também destacou o papel fundamental das mulheres e das comunidades indígenas na gestão e conservação da água.
A Oficina de Implementação do PAE no Equador encerrou um ciclo de eventos similares ocorridos nos oito países amazônicos, no âmbito do Projeto Bacia Amazônica, todos eles de caráter participativo e voltados à discussão e proposição de ações para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH) da Bacia Amazônica. Como primeira Estratégia de Cooperação Regional para a GIRH, o PAE prevê a elaboração de Planos de Ação Nacionais, processo ao qual os participantes desse ciclo de oficinas foram convidados a integrar-se.
“As oficinas são dinamizadoras da implementação e retroalimentação do PAE e oferecem significativas contribuições à consolidação de políticas nacionais, identificando as necessidades de capacitação nos países e o apoio necessário para fazer avançar o programa. Isso inclui tanto os temas técnicos de gestão integrada dos recursos hídricos da Amazônia quanto os temas transversais de cultura, educação e gênero“, afirmou a Diretora Administrativa da OTCA, Edith Paredes, na abertura do evento em Quito.
Suas palavras se seguiram às do sub-secretário para América Latina e Caribe, Santiago Apunte, que reforçou o compromisso do Equador com o PAE. “Para nós, a implementação desse programa tem sido estratégica, uma vez que ele não se concentra apenas na gestão de recursos hídricos, mas também busca aumentar a capacidade de nossas comunidades de se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas, fortalecer a governança da água e garantir a disponibilidade de dados sólidos e compatíveis para a tomada de decisões coordenadas a nível nacional e regional“, afirmou Apunte.
Ao destacar os desafios transfronteiriços relacionados com a água e as mudanças climáticas, a vice-ministra da Água María Luisa Cruz do Ministério do Meio Ambiente, Água e Transição Ecológica citou a disposição dos participantes de identificar ações prioritárias, desenvolver capacidades para promover a equidade de gênero em todas as iniciativas. “Estou segura de que, trabalhando juntos, poderemos construir um futuro mais sustentável e equitativo para todas as famílias que dependem dos recursos hídricos amazônicos”, destacou a vice-ministra.
Atuando ativamente em dois grupos temáticos – o de GIRH e o de cultura e educação – e da capacitação de gênero, oferecida com o objetivo de promover habilidades para a inclusão da equidade de gênero em planos, programas, projetos e políticas, os participantes da oficina compartilharam suas experiências e ideias inovadoras para a implementação do PAE.
As contribuições do grupo de GIRH incluíram, entre outras, o mapeamento dos avanços promovidos pelo Equador na gestão da água e os aspectos que precisam ser desenvolvidos, como o fortalecimento dos Conselhos de Bacia e a gestão participativa dos planos de manejo dos recursos hídricos. O grupo de cultura e educação, por sua vez, formulou estratégias para incorporar nas ações do PAE a visão cultural, artística e educativa dos povos indígenas e das comunidades tradicionais da Amazônia equatoriana, como a formação de uma rede de jovens comunicadores e ativistas para conectar as comunidades indígenas e tradicionais dos oito países amazônicos.
Durante a capacitação de gênero, os participantes exercitaram o uso da ferramenta central do treinamento, o Scanner de Transversalização de Gênero (desenvolvido pela CEPAL e pela Agência Alemã de Cooperação Internacional-GIZ), realizando diagnósticos rápidos e formulando algumas estratégias de implementação da perspectiva de gênero em dois projetos específicos.
- Desde 2021, o Projeto de Implementação do PAE da Bacia Amazônica vem apoiando os oito países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) na implementação do Programa de Ação Estratégica (PAE) e na promoção da Gestão Integrada de Recursos Hídricos na Bacia Amazônica em um continuum da nascente ao mar. Com base nas Linhas Estratégicas de Resposta do PAE, o projeto visa fortalecer institucionalmente a governança da água nos oito países amazônicos e em nível regional, criando resiliência comunitária e protegendo os ecossistemas aquáticos para enfrentar as mudanças climáticas, bem como monitorar os recursos hídricos e os ecossistemas por meio de um Sistema Regional de Monitoramento Ambiental. Implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), o projeto é executado pela OTCA.