Bogotá, 19 de agosto de 2025 (@OCTAnews) – Embora os Diálogos Amazônicos tenham sido um espaço de reflexão sobre temas que preocupam as organizações da sociedade civil em relação à maior floresta tropical do mundo, a busca por soluções integrais requer a opinião de especialistas sobre a região amazônica.
Por isso, nesta terça-feira, foi realizado o painel Os Rios Voadores: O segredo mais bem guardado da Amazônia, na Hemeroteca da Universidade Nacional, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia e com a participação de acadêmicos, representantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), do Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais da Colômbia (IDEAM), do Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, do Serviço Geológico e dos Parques Nacionais.
Durante o encontro, os especialistas falaram sobre os rios voadores (também conhecidos como rios aéreos) e sua importância para abastecer de chuvas não apenas a própria floresta, mas também territórios rurais e urbanos altamente povoados.
Além disso, eles concordaram que a Amazônia – recorrendo a uma analogia – é o ar condicionado do planeta e que o desmatamento acelerado que a floresta tropical está sofrendo está fazendo com que os rios voadores não cumpram sua função de mitigar as secas que, devido às mudanças climáticas, estão se tornando cada vez mais longas.
Esse transporte de umidade que a atmosfera realiza naturalmente precisa da floresta amazônica para que o vapor, que vem inicialmente do Oceano Atlântico, chegue às zonas andinas.
“Precisamos entender as mudanças de temperatura no oceano, também na atmosfera, e a sinergia entre os dois para prever a entrada de umidade na Amazônia. Se pensarmos no futuro, para os anos 2030 e 2050, teremos uma perda de força na entrada dessa umidade”, afirmou Arnaldo Carneiro, coordenador científico do Observatório Regional Amazônico (ORA) da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
O coordenador foi além e falou de uma dimensão pouco mencionada quando se trata das mudanças que os rios voadores estão sofrendo: a dimensão política. “Estamos importando mudanças climáticas que vêm do hemisfério norte. Quando observamos a dinâmica das correntes oceânicas, que chegam do norte, o aumento da temperatura está afetando a entrada de umidade na Amazônia. E é por isso que temos que aproveitar esta Cúpula dos Países Amazônicos para trazer esses temas ao debate político que possa ocorrer”
Carneiro recorreu a porcentagens para deixar sua explicação mais clara: “60% a 70% da degradação da floresta amazônica vem do hemisfério norte, 20% está associada ao desmatamento e 10% corresponde a erros que nós mesmos cometemos. Portanto, por mais que lutemos contra o desmatamento, não resolveremos o problema”.
Por fim, o coordenador da ORA fez um apelo para que a comunidade em geral se conscientizasse de que a Amazônia não é mais o pulmão do mundo, mas se forem buscados mecanismos de adaptabilidade, talvez os rios voadores consigam que ela volte a sê-lo.
“Em algumas áreas, a Amazônia está emitindo CO2 em vez de capturá-lo, como deveria ser. E essa é uma realidade que não podemos esquecer e que temos que enfrentar”, concluiu Carneiro, que espera que, após esta Cúpula dos Países Amazônicos, haja um maior compromisso dos países que integram a OTCA para promover a pesquisa e contar com mais ferramentas para proteger o ecossistema.