Levantamento inédito em xilotecas e uso de Tecnologia do Infravermelho Próximo estão sendo desenvolvidos para auxiliarem o processo de identificação de madeiras ameaçadas de extinção
Autores: Vera T. Rauber Coradin, Tereza C. M. Pastore e Jez W. B. Braga[1]
A execução do Projeto de Identificação Rápida de Madeiras de Dalbergia e Óleo de Pau-rosa por Tecnologia do Infravermelho Próximo – NIRS ID teve seu início em novembro de 2019, no Laboratório de Produtos Florestais (LPF) do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) em parceria com o Instituto de Química da Universidade de Brasília. Possui aporte financeiro principal do Programa CITES de Espécies Arbóreas (CITES Tree Species Programme – CTSP), do Projeto Bioamazônia (SP/OTCA) e do governo brasileiro. Visa construir modelos de identificação de madeiras do gênero Dalbergia (como o jacarandá-da-Bahia), inseridas nos ANEXOS I e II da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens Ameaçadas de Extinção) por serem consideradas em risco de extinção, e de um modelo que permita a comprovação da autenticidade e pureza do óleo de pau-rosa. O método convencional de identificar uma madeira comercializada é por meio da anatomia de madeira, no entanto, outras metodologias instrumentais, como a do NIRS, estão sendo desenvolvidas para auxiliarem o processo de identificação, principalmente nos casos de madeiras aparentemente similares serem confundidas.
Para construir um modelo de identificação robusto, abrangendo o máximo das variáveis como clima, solo, doenças etc, que estão representadas na madeira de cada árvore analisada, é necessário obter espectros de elevado número de amostras para cada espécie estudada. A coleta de material em campo tem alto custo, além de ser extremamente morosa. Estrategicamente, neste projeto, optou-se por obter espectros de coleções biológicas de madeiras ou xilotecas. A madeira, além de já estar coletada e armazenada em condições apropriadas, também possui identificação feita por botânicos ou anatomistas de madeira.
Após obtermos cerca de 60 espectros de 20 madeiras de árvores diferentes (para cada espécie estudada), todos os dados são reunidos em uma matriz e analisados. A montagem dos modelos de discriminação requer conhecimentos de quimiometria (estatística aplicada à espectroscopia). Uma vez desenvolvido, o modelo é carregado no aparelho portátil que requer um rápido treinamento do usuário para realizar análise. A ferramenta é bastante amigável: o espectro de uma madeira desconhecida é comparado com os espectros das espécies que compõem o modelo inserido no aparelho e o nome da espécie é estampado na tela do aparelho, em questão de segundos.
Discos de madeiras nativas do Brasil, em especial madeiras da Amazônia e do Cerrado. Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (LPF/SFB). Crédito da Foto: Vera Rauber Coradin.
Xilotecas
Em tempos de pandemia, quando deslocamentos para visitas técnicas a coleções de madeira estão proibidas, o Projeto NIRS ID realizou um levantamento online das amostras de madeiras do gênero Dalbergia nas mais importantes xilotecas internacionais e nacionais. A seleção foi feita principalmente com base no Index Xylariorum 4.1 onde são registradas todas as xilotecas oficiais do mundo, e foram selecionadas 10 xilotecas brasileiras e 7 xilotecas internacionais. Como base inicial, tomou-se o tamanho da coleção, a sua especialização e a viabilidade de realização de visita, dentro do âmbito do projeto, para obtenção dos espectros no infravermelho próximo. Quando o banco de amostras da xiloteca não estava disponibilizado ao público, contatou-se o curador.
Foram coletados dados das xilotecas internacionais: Tervuren (Tw), Belgica; Jodrell Laboratory (K-Jw), Kew/Inglaterra; Smithsonian Institution (USw), Washington/USA; CIRAD-Foret (CTFw), Montpellier, França; Naturalis Biodiversity Center (Dw, Lw, RTIw, Uw, WAGw, WLw, WIBw), Leiden, Holanda; Universidad Nacional Autonoma de México (MEXUw), México; Instituto de Ecologia (XALw), Xalapa, México. As seguintes xilotecas nacionais foram consultadas: Laboratório de Produtos Florestais (FPBw), Brasília; Universidade Federal do Paraná UFPR (SR), Curitiba; Jardim Botânico (R-Bw), Rio de Janeiro; IPT (BCTw), São Paulo; INPA (INPAw), Manaus; Museu Paraense E. Goeldi (RBHw), Belém; Centro de Pesquisas do Cacau (CEPECw), Ilheus; Reserva Florestal da CVRD (CVRDw), Linhares; USP Departamento de Botânica (SPFw), São Paulo; Instituto Florestal de São Paulo (SPSFw), São Paulo.
Até o momento, as informações de três importantes xilotecas internacionais Forest Products Laboratory (MADw, SJRw), Madison/EUA; Thünnen Institute (RBHw), Hamburg/Alemanha e Chinese Academy of Forestry (CAFw), Beijing/China; ainda não puderam ser disponibilizadas.
No acervo das 10 xilotecas brasileiras encontraram-se registros de 480 amostras do gênero Dalbergia, das quais 417 estão identificadas em nível de espécie, totalizando 38 espécies, sendo 23 nativas do Brasil e as demais da Ásia e África.
Nas 7 xilotecas internacionais foram encontradas 860 madeiras do gênero Dalbergia, sendo 705 amostras identificadas em nível de espécie, totalizando 71 espécies diferentes. Nessas xilotecas predominam espécies da África e Ásia.
Os dados deste levantamento inédito estão disponíveis no relatório recentemente finalizado pela anatomista de madeira Dra. Vera T. R. Coradin, pesquisadora voluntária do Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro, e brevemente estará disponibilizado online ao público.
Os próximos passos do projeto, pós-pandemia, serão visitar as xilotecas relacionadas no texto acima, recolher os espectros, analisar quimiometricamente os dados, montar os modelos de discriminação de no mínimo 20 espécies do gênero Dalbergia e testá-los em campo.
Brasília, 13 de julho de 2020.
Publicado no Boletim Bioamazônia, edição n. 5, julho-agosto de 2020.
[1] Anatomista de madeira e pesquisadora voluntária do Laboratório de Produtos Florestais/Serviço Florestal Brasileiro; Química, Pesquisadora do Laboratório de Produtos Florestais/Serviço Florestal Brasileiro; Químico, Professor e Pesquisador do Instituto de Química da Universidade de Brasília.