O Centro de Resgate Amazônico (CREA) construiu novos espaços para receber e cuidar dos peixes-boi (Trichechus inunguis) que são resgatados pela equipe do CREA. As novas instalações permitirão um melhor cuidado e manejo até a hora de soltar os animais nos rios da Amazônia.
Essa cooperação ao CREA é prestada pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), com financiamento do Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), por meio do Projeto Bioamazônia.
O Centro de Resgate Amazônico, localizado em Iquitos, Peru, nasceu com o objetivo de resgatar e cuidar dos peixes-boi. Tudo começou quando o recém-formado biólogo Javier Velásquez se encontrou pela primeira vez com um filhote de peixe-boi resgatado do tráfico de animais selvagens e que estava sem atendimento adequado em uma instituição. O jovem Javier Velásquez pediu permissão para levar e cuidar do peixe-boi. Mas teve como resposta que um animal silvestre não podia ser entregue sob custódia a uma pessoa, apenas a uma outra instituição. Então Javier buscou o apoio de alguns amigos e criou o Centro de Resgate Amazônico, em 2007.
“Naquela época não havia nenhuma instituição no Peru que soubesse cuidar de peixes-boi bebês. Em 2007, fizemos nosso primeiro resgate e começamos em uma caixa de água na casa de um tio. Em 2008 já tínhamos quatro peixes-boi, mas os tanques não eram suficientes. O Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP) nos permitiu usar tanques que eram originalmente para pirarucu (Arapaima gigas). Cuidamos de 50 peixes-boi e conseguimos devolver 25 à natureza”, conta Javier Velásquez.
Novas instalações
Os novos tanques para peixes-boi foram construídos em um formato circular para permitir um mergulho contínuo para os animais que precisam se exercitar para ficar mais fortes. Os tanques também têm abastecimento de água constante e abundante.
No total, são seis novos tanques: Um para tratamento de água, quatro para quarentena com três metros de diâmetro e um tanque de desmame de oito metros de diâmetro. Neste último, os peixes-boi param de receber leite e começam a comer plantas aquáticas. Os novos tanques ficam em ambientes abertos, o que facilita a entrada da radiação solar, o que contribui para a recuperação dos animais.
Também foi construído um espaço para permitir melhor trabalho de conscientização e educação ambiental com os visitantes. O CREA recebe cerca de 35 mil visitantes por ano.
Agora, após 12 anos de trabalho e com o apoio da OTCA, tivemos a possibilidade de construir instalações permanentes para a reabilitação de animais em um ambiente adequado para salvar os peixes-boi e dar a eles a oportunidade de retornar à natureza”, afirmou Velásquez.
Tráfico ilegal. Javier Velásquez explica que a região de Loreto, na Amazônia peruana, é muito extensa e com muitas comunidades espalhadas que ainda não sabem que o peixe-boi é uma espécie ameaçada de extinção e que sua caça e comercialização estão proibidas.
“Então, acontece que os animais são capturados para se tentar vendê-los como animais de estimação nas cidades. Quando a polícia os confisca, tem que enviar os animais para algum lugar. Aqui entra o CREA, que os recebe e cuida até que seja possível devolvê-los à natureza”, explica Javier.
Um peixe-boi bebê precisa ser cuidado por pelo menos dois anos, o período de lactação. Em seguida, eles vão para um espaço onde não têm contato com as pessoas. Depois de seis meses, em colaboração com guardas-florestais, eles são devolvidos aos rios que estão em áreas naturais protegidas.
“Antes da criação do CREA, todos os peixes-boi apreendidos no Peru morriam. Com o trabalho que realizamos, 50 peixes-boi foram resgatados, 25 soltos na natureza e estamos cuidando de outros 20 animais. Em novembro devemos liberar três deles. Esta é a nossa espécie guarda-chuva e agora também recebemos e cuidamos de outros animais”, informa Javier.
Educação ambiental. Além de resgatar e cuidar dos peixes-boi e outros animais capturados ilegalmente, o CREA faz um trabalho de educação ambiental com crianças e turistas locais que visitam Iquitos, local mais visitado da cidade.
O CREA já realizou oficinas de educação ambiental para cerca de 120 mil crianças da região e recebeu mais de 80 mil turistas de todo o mundo. Entre os mais famosos estão os atores Harrison Ford, que visitou o centro em 2015, e Robert de Niro, que conheceu o CREA em 2018.
O principal aliado do CREA é o The Dallas World Aquarium, que desde 2007, apoia financeiramente a instituição. O CREA também conta com o apoio do Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP) e, este ano de 2020, recebe o apoio da OTCA com financiamento do KfW, por meio do Projeto Bioamazônia, para a construção dos seis novos tanques que podem abrigar até 10 peixes-boi.