O Atlas sintetiza a complexa realidade biofísica e socioeconômica da bacia amazônica através de 51 mapas temáticos, que fazem dele uma ferramenta fundamental para os tomadores de decisão. Para sua elaboração foram necessários três anos e teve um custo de 300 mil dólares. Ele mostra o estado das infraestruturas: elétrica, de saúde (distribuição do número de instituições de saúde), de mobilidade, e das instituições educativas da região, assim como a localização das áreas protegidas. Também foi criado o mapa: modelo digital de elevação da Amazônia.
Um de seus objetivos é visibilizar a vulnerabilidade das populações e dos ecossistemas, frente aos eventos climáticos extremos (secas e inundações que afetam ciclicamente à região), através da análises feita das informações compiladas sobre as ameaças hidroclimáticas. Desta forma se obteve, por exemplo, mapas sobre as ameaças de seca para os sistemas agropecuários e para a população da bacia e também mapas sobre ameaças de inundação para os sistemas agropecuários e comunidades. Igualmente, resultam muito inovadores os mapas sobre a distribuição espacial de vulnerabilidade socioeconômica frente à seca e as inundações, entre muitas outras variáveis investigadas.
O Atlas servirá para fortalecer as instituições da região, como base científica para o planejamento dos recursos hídricos da bacia, considerando a variabilidade e as mudanças climáticas. No clima da bacia amazônica, ocorrem uma variedade de fenômenos hidrometereológicos e hidroclimáticos extremos, que afetam o sistema socioeconômico da região e que, em diversas ocasiões, tem gerado situações de desastres. Estes fenômenos podem ser apreciados nos mapas sobre temperatura média, precipitação anual e, do balanço hidroclimático, entre outros.
O Atlas foi realizada em quatro fases. Na primeira foi feita uma caracterização biogeofísica, com mais de 10 variáveis estudadas, desde o relevo da bacia, tipos de solo, temperatura, precipitação, evapotranspiração (transpiração dos vegetais), até a mudança climática, entre outras, e a descrição socioeconômica da bacia, sua população e crescimento, incluindo atividades econômicas, agropecuárias e comerciais. Destacam-se os mapas sobre evapotranspiração real, a rede hidrográfica principal da Amazônia, e o mapa da distribuição da rede de estradas principais na região.
Na segunda fase foi realizada a análise das ameaças hidroclimáticas. Neste contexto, de acordo com o CIIFEN, é considerada ameaça a condição quando um sistema ou parte dele está exposto ao impacto de um fenômeno hidroclimático extremo, o qual é considerado em termos de probabilidade de perda ou danos. As ameaças por cobertura espacial e magnitude dos impactos, têm sido as secas e as inundações. A análise destas ameaças pode ser observada, em detalhe, nos mapas temáticos.
A terceira fase foi a avaliação da vulnerabilidade diante os fenômenos hidroclimáticos extremos, através da estimativa da suceptibilidade e da capacidade de adaptação dos sistemas expostos (socioeconômico e biofísico). Isto é, a análise de susceptibilidade e capacidade de adaptação foi realizada para cada fenômeno (chuvas intensas ou seca) separadamente e com dois componentes por evento hidroclimático: o biofísico, ou seja, o entorno, a vegetação, redes hídricas, solos, etc., e o componente socioeconômico: população e formas de vida. Os processos alcançados através do cálculo e análise da vulnerabilidade, são assuntos que se mostram nos mapas correspondentes. Um exemplo é o mapa onde se observa que a bacia apresenta um grau muito baixo de capacidade de adaptação para a infraestrutura educativa em sectores da Amazônia.
Desta forma chegou-se na etapa final, que foi a geração do Atlas de Vulnerabilidade Hidroclimática da bacia Amazônica, na escala 1:1.000.000. (Isto significa que um centímetro do mapa representa um milhão de centímetros em terreno, ou seja, 10km).
“Para o futuro, diversos cenários de mudanças climáticas apresentam um aquecimento que poderia chegar entre os 3-4°C, a finais deste século, e um acréscimo da precipitação, especificamente no setor norte-ocidental da bacia”, segundo estabelece o relatório técnico do CIIFEN que trabalhou cenários de mudança climática para a Amazônia, com base na montagem de quatro Modelos do CMPIP5 (Coupled Model Intercomparison Project Phase 5, pela sigla em inglês), que utiliza o Programa Mundial de Pesquisa do Clima.
Da informação contida no Atlas, surgiram orientações que foram fundamentais para alimentar o Programa de Ações Estratégicas (PAE), principal realização do Projeto GEF Amazonas.
Da série de orientações se destacam as seguintes: “aprofundar o conhecimento a respeito da dinâmica do clima que governa as fases extremas da variabilidade climática regional, e incorporar o novo conhecimento em esquemas de predição, que sirvam de sistemas de alerta climática precoce…” e o “planejamento acorde com os ciclos de inundação-seca”
A elaboração do Atlas deixa como lição que, avançar para a redução dos impactos hidroclimáticos, somente pode ser alcançada através do planejamento regional, a gestão integrada dos recursos hídricos, e a gestão do risco de desastres.
Foto: Rio Madeira (RuiFaquini/ANA)