Tráfico de aves na Amazônia

jun 29, 2021Informativo, Projeto Bioamazônia

O Centro de Resgate Amazônico (CREA) tem trabalhado em Iquitos, Peru, no resgate e reabilitação de diferentes espécies de aves.

 Autor: Cristian Vélez, Coordenador de Educação e Ecoturismo do CREA.

Segundo a história “El Sueño de San Martin” do escritor Abraham Baldelomar, quando o libertador José de San Martin desembarcou na baía de Paracas, na costa peruana, cansado da viagem, sentou-se para dormir aos pés de uma palmeira e sonhou com um bando de belos pássaros de asas vermelhas e corpo branco, os mesmos que serviram de inspiração para as cores da bandeira peruana. Eram as parihuanas, uma ave altoandina que também habita as costas peruanas.

Séculos depois do sonho de San Martin, as aves peruanas ainda são uma fonte de inspiração e admiração. No último dia 13 de maio foram anunciados os resultados do Global Big Day (GBD), a competição de observação de aves mais importante do mundo. Após quatro anos consecutivos em segundo lugar, o Peru finalmente ficou em primeiro lugar com 1.351 registros de espécies avistadas, seguido pela Colômbia, Equador, Brasil e Bolívia.

As aves sempre fascinaram por sua beleza e majestade, no entanto, as penas coloridas e o impacto de seus cantos, parecem ser sua maldição, pois essas características as tornam muito procuradas para serem comercializadas ilegalmente. O Peru é um dos países com a maior diversidade de aves do mundo com cerca de 1800 espécies, muitas delas endêmicas da Região Amazônica. Infelizmente, esta diversidade fez com que se tornasse um dos principais fornecedores de aves no mercado ilegal nacional e internacional, sendo que milhares de aves são arrancadas a cada ano de seu habitat na Amazônia para cruzar metade do mundo e acabam em alguma coleção em países como Holanda, Bélgica, Áustria, Espanha ou França na Europa, e China, Japão, Cingapura, entre outros, na Ásia.

Muitos mercados nas cidades amazônicas tornaram-se um ponto crítico para o tráfico de animais silvestres. Ali, araras vermelhas (Ara macao), araras azuis (Ara ararauna), tucanos-grande-de-papo-branco (Ramphastos tucanus) e periquitos-de-asa-branca (Brotogeris versicolurus) – as espécies mais traficadas nos últimos 20 anos – entre outras, são oferecidas para uso como animais de estimação ou em rituais xamânicos.

Diante desta situação alarmante, o Centro de Resgate Amazônico (CREA), localizado a cerca de 30 km do mercado de Belen (Iquitos, Peru), vem trabalhando arduamente no resgate e reabilitação de diferentes espécies de aves, todas resgatadas do tráfico ilegal. Muitas delas chegam em situações deploráveis, com penas cortadas e asas quebradas, tendo mesmo que amputar a asa de uma arara escarlate para salvar sua vida. Após os cuidados veterinários correspondentes, estas aves estão vivendo em estado de semiliberdade, em um espaço de 11 hectares de floresta natural, onde têm a oportunidade de apreciar as árvores, os frutos silvestres e exercitar suas asas para voar novamente.

Tráfico de aves na Amazônia

Arara azul (Ara ararauna) no Centro de Resgate Amazônico (CREA).

Da mesma forma, estamos trabalhando duro para promover o turismo sustentável e campanhas de conscientização que buscam reduzir a compra e a posse de animais silvestres como animais de estimação. Em médio prazo, procuramos converter este espaço em um santuário para aves resgatadas, para que mais espécimes tenham a oportunidade de voar livremente e, como aconteceu com José de San Martín, continuar a ser uma fonte de inspiração e sinônimo de liberdade.

O trabalho de reabilitação de espécies silvestres está sendo realizado graças à colaboração estratégica entre o Projeto Centro de Resgate Amazônico, o Zoológico Mundial do Aquário de Dallas, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), através do Projeto Bioamazônia, e a Agência de Cooperação Turca (TIKA) Colômbia. Esta sinergia tornou possível melhorar os recintos essenciais para a recuperação e o bem-estar destes espécimes.

Assista ao vídeo sobre o cuidado das aves: https://youtu.be/qIUrCU5SOLQ

Publicado no Boletim Bioamazônia, edição n. 9, maio-junho de 2021.

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