Monitoramento da vida silvestre destinada ao consumo em Estrela Fluvial de Inírida EFI, Colômbia

mar 1, 2021Informativo, Projeto Bioamazônia

A Estrela Fluvial de Inírida (EFI) foi designada como sítio RAMSAR em 2014.

Autor: Instituto Sinchi

Na Amazônia colombiana, como na Pan-Amazônia, as comunidades locais e especialmente as comunidades indígenas têm uma estreita relação com a vida silvestre, não só por ser uma importante fonte de proteína para sua dieta, mas também por seu papel nas diferentes culturas, em seus mitos e rituais. Dada a importância da fauna silvestre e a preocupação das comunidades locais em conhecer o estado deste recurso, o Instituto Sinchi, juntamente com 24 comunidades indígenas e camponesas da Estrela Fluvial Inírida, tem monitorado as espécies da fauna que fazem parte de sua dieta.

O Estrela Fluvial de Inírida (EFI) é um complexo de zonas úmidas formado pela confluência das bacias baixas dos rios Inírida, Guaviare e Atabapo, e com a influência do rio Ventuari do Estado do Amazonas na Venezuela. A EFI, que foi designada como sítio RAMSAR em 2014, está localizada no leste da Amazônia colombiana, nordeste do departamento de Guainía e sudeste do departamento de Vichada, e cobre uma área de 253.000 ha (Figura 1).

Monitoramento da vida silvestre destinada ao consumo em Estrela Fluvial de Inírida EFI, Colômbia

Figura 1. Localização da Estrela Fluvial de Inírida (EFI) e das 24 comunidades que participam do monitoramento da fauna de consumo.

Com o apoio do Programa GEF Conservação Florestal e Sustentabilidade no Coração da Amazônia e os parceiros, o Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia e a Corporação para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia do Norte e Leste (CDA), pesquisadores locais das 24 comunidades presentes na EFI, pertencentes às etnias Curripaco, Puinave, Piapoco, Sikuani, Cubeo, Tucano e camponeses, e seus órgãos representativos, a Corporación Mesa Ramsar Estrela Fluvial Inírida e a Asociación de Campesinos de la Estrela Fluvial Inírida (ACEFIN), registraram dados sobre o uso da fauna no território durante 11 meses contínuos. Este acompanhamento é tecnicamente apoiado pelo Instituto Sinchi, que também se beneficiou do fortalecimento dos equipamentos fornecidos pelo Projeto Regional de Manejo, Monitoramento e Controle da Fauna e da Flora Ameaçadas pelo Comércio (Projeto Bioamazônia) executado pela Secretaria Permanente da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (SP/OTCA) e financiado pelo Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW).

Até o momento, o consumo de 58 espécies de fauna foi documentado: 26 espécies de mamíferos, 17 de aves, 11 de répteis, 3 de insetos e 1 espécie de anfíbio. Das espécies utilizadas para consumo na Estrela Fluvial de Inírida (EFI), 25 estão incluídas nos apêndices da CITES: 3 no Apêndice I e 22 no Apêndice II. Durante este período, metade das presas capturadas correspondia a espécies da CITES, em sua maioria espécies do Anexo II, que representam 65% da biomassa colhida e incluem seis das espécies mais utilizadas pelas comunidades (Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis erythrocephala, Caiman crocodylus, Tayassu pecari, Paleosuchus sp. e Tapirus terrestris) (Figura 2).

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Figura 2. Volumes de uso da fauna para consumo e porcentagem de espécies CITES utilizadas pelas comunidades que fazem parte da Estrela Fluvial Inírida (EFI).

Quanto ao destino da caça, as comunidades da EFI a utilizam principalmente para consumo (79%) e apenas 14% da captura é comercializada localmente, seja em sua totalidade ou uma porção da presa. Do número total de eventos de comercialização, 60% correspondem a espécies listadas na CITES como tartarugas (Peltocephalus dumerilianus e Podocnemis erythrocephala) e jacarés (Caiman crocodylus e Paleosuchus sp.) (Figura 3).

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Figura 3. Consumo e comércio local das espécies CITES na Estrela Fluvial de Inírida (EFI).

É importante notar que o comércio é desenvolvido em nível local, não há registros de comércio transfronteiriço e, em muitos casos, isso ocorre dentro das mesmas comunidades onde os animais são levados. Neste sentido, este estudo não aborda questões de comércio internacional, que são o objetivo estrito da Convenção CITES, mas fornece elementos para o uso sustentável e conservação das espécies, tanto as espécies incluídas nos Apêndices como as que não o são.

A espécie mais importante na subsistência das comunidades é a paca (Cuniculus paca), uma espécie NÃO CITES, ocupando o primeiro lugar tanto no consumo quanto no comércio dentro das comunidades.  Este monitoramento nos permitiu verificar que o uso da fauna, tanto da CITES quanto de espécies não CITES, mostra diferenças dentro da Estrela Fluvial de Inírida (EFI) e é possível que estas diferenças estejam relacionadas à disponibilidade da fauna no nível de cada setor ou bacia; alguns exemplos são mostrados na Figura 4.

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Figura 4. Níveis de exploração por comunidade para algumas espécies da fauna na Estrela Fluvial de Inírida (EFI). Acima espécies NON CITES, à esquerda: Paca (Cuniculus paca) e direita: Paujil (Mitu tomentosum). Abaixo espécies incluídas no Anexo II da CITES, à esquerda: Anta (Tapirus terrestris) e direita: Mico maicero (Sapajus apella).

Para entender melhor a sustentabilidade do uso, foram iniciadas estimativas de disponibilidade (abundância) de espécies colhidas este ano, implementando metodologias de armadilhas fotográficas e contagens de trânsito de linha com foco em espécies terrestres. Para espécies com hábitos aquáticos, protocolos estão sendo projetados e testados para permitir que registros comunitários sejam feitos para estabelecer a abundância de espécies importantes, tais como tartarugas e jacarés. Tudo isso com o objetivo de ter as informações que permitam rever, ajustar e propor medidas de gestão que garantam a sustentabilidade das populações silvestres e também a segurança e a soberania alimentar das comunidades.

Monitoramento da vida silvestre destinada ao consumo em Estrela Fluvial de Inírida EFI, Colômbia

Coleta e registro de dados no monitoramento da vida silvestre destinada ao consumo na Estrela Fluvial de Inírida EFI, Colômbia.

 

Publicado no Boletim Bioamazônia, edição n. 7, janeiro-fevereiro de 2021.

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