NIRS: Banco de espectros no infravermelho próximo de madeiras de espécies similares

abr 29, 2021Informativo, Projeto Bioamazônia

A tecnologia poderá ser usada pelos agentes ambientais, alfandegários, policiais e outros que combatem a extração ilegal de madeira e seu comércio. Estudo está sendo conduzido pelo Laboratório de Produtos Florestais (LPF), com apoio da OTCA

 Autores: Tereza C. M. Pastore[1], Jez W. Batista Braga[2] & Alessandro C. de O. Moreira[3]

 Atualmente, a técnica mais empregada para a identificação de madeira de uma espécie florestal é a anatomia da madeira, que compara os caracteres anatômicos de determinada amostra com amostras de referência depositadas em coleções de madeiras ou xilotecas. Contudo, devido à necessidade de especialistas altamente treinados, esse método não tem conseguido atender a grande demanda do comércio de produtos florestais. Atualmente, outras técnicas instrumentais ou eletrônicas vêm sendo desenvolvidas para auxiliar a identificação da madeira.

A tecnologia NIRS, associação da espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS do nome original em inglês – Near Infrared Spectroscopy), e análise quimiométrica, é proposta como alternativa à anatomia de madeira. A experiência de nosso grupo de pesquisa tem mostrado que desde que os espectros de madeira sejam obtidos de amostras em uma mesma condição de umidade e que tiveram suas superfícies preparadas da mesma forma, é possível a utilização de um modelo criado a partir de uma base de espectros NIRS para determinar tanto a espécie florestal ou a sua origem (Figura 1).

NIRS: Banco de espectros no infravermelho próximo de madeiras de espécies similares

Figura 1. Aparelho de espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS) sendo testado na identificação da madeira.

As madeiras selecionadas no banco de espectros NIRS incluem principalmente as espécies designadas como ameaçadas de extinção pela CITES – Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres ou similares. O banco poderá ser usado pelos agentes ambientais, alfandegários, policiais e outros que combatem a extração ilegal de madeira e seu comércio, a exemplo de outros bancos de dados como ForeST – (Forensic Spectra of Trees) que disponibiliza os resultados das análises de madeiras obtidos por espectrometria de massa. O acervo de espectros na região do infravermelho próximo (NIRS) de madeiras de espécies tropicais do Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (LPF-SFB) é extremamente importante por possibilitar, ao público interessado, acessar e construir modelos de identificação de madeira conforme a sua necessidade e condições locais.

Considerando o potencial dessa ferramenta para o estudo e proteção de espécies produtoras de madeira, o LPF-SFB, em conjunto com o Laboratório de Automação, Quimiometria e Química Ambiental da Universidade de Brasília (AQQUA – UnB), disponibiliza, por meio dessa base de dados, os espectros NIRS coletados, desde 2014, de três grupos distintos:

  • Swietenia macrophylla (mogno) e cinco espécies visualmente semelhantes (Swietenia humilis, Carapa guianensis, Cedrela odorata, Mycropholis melinoniana) de diversas origens;
  • Swietenia macrophylla (mogno) proveniente de cinco países da América Latina: Bolívia, Brasil, Guatemala, México e Peru;
  • Dalbergia nigra (jacarandá-da-Bahia), decipularis, D. sissoo, D. stevensonii, D. latifolia, D. retusa e outras 10 espécies do mesmo gênero e de diversas procedências.

O referido estudo vem recebendo o apoio da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), por meio do Projeto Bioamazônia, no âmbito do Componente 3 de apoio a iniciativas de manejo sustentável e rastreabilidade de espécies ameaçadas.

Os arquivos são disponibilizados no formato .txt. Esse formato contém todas as informações para ser importado no software Method Generator, que consiste no software para a análise de dados no equipamento onde foram obtidos os espectros. Contudo, os arquivos podem ser importados para diferentes tipos de softwares especializados ou mesmo planilhas eletrônicas. Considerando a sua importação em uma planilha eletrônica (por exemplo, utilizando os softwares Microsoft Excel ou LibreOffice) cada linha corresponde ao espectro de uma amostra.

A base de dados tem como objetivo promover o gerenciamento e divulgação na internet de arquivos com os espectros no infravermelho próximo de madeira, que servem como ferramenta auxiliar no processo de sua identificação. O sistema deve permitir que agentes ambientais baixem os arquivos contendo os espectros a fim de que possam realizar treinamentos na construção de modelos de identificação de espécies por NIRS e, por meio de estratégias de transferência, possam utilizar esses dados para ampliar seus próprios bancos de dados para aumentar a robustez de seus modelos e com isso ter mais confiança nas tomadas de decisão in loco, em ações de fiscalização que podem indicar possível exploração de madeira ilegal.

Uma vez que a área destinada ao “download” dos arquivos é de livre acesso, esperamos que essa base de dados possa contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento de pesquisas de outros grupos e em ações práticas que facilitem a identificação de madeiras. A aquisição e organização dos espectros seguiu protocolos rigorosos (descritos em cada arquivo), sendo a procedência das amostras ou sua identificação realizada através de sua origem em coleções de referência ou pela análise anatômica feita por especialistas altamente treinados. Contudo, o LPF-SFB e AQQUA-UnB esclarecem aos usuários da base de dados que seu uso e aplicação dependem dos procedimentos que serão empregados para a análise dos espectros disponibilizados (ex.: tipo de pré-processamento ou modelo quimiométrico) e a forma que estes forem aplicados aos dados.

O LPF-SFB já realizou um treinamento para fiscais do IBAMA sobre o uso da ferramenta e está previsto para o 2º semestre de 2021, com o apoio da OTCA por meio do Projeto Bioamazônia, a capacitação de técnicos dos países membros da OTCA.

 

[1] Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (LPF-SFB). Contato: tereza.pastore@florestal.gov.br

[2] Laboratório de Automação, Quimiometria e Química Ambiental da Universidade de Brasília (AQQUA – UnB). Contato:  jez@unb.br

[3] Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (LPF-SFB). Contato: alessandro.moreira@florestal.gov.br

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