Brasil
No extremo norte do Brasil, entre os estados do Pará e do Amapá, na fronteira com o sul do Suriname, encontra-se a Terra Indígena do Parque do Tumucumaque. Na área de cerca de três milhões de hectares, cujo acesso somente é possível por via aérea, vivem seis diferentes povos indígenas: Aparai, Katxuyana, Tiriyó, Wayana, Isolados Akurio e Isolados do Rio Citaré.
Devido ao isolamento da Terra Indígena, os serviços atenção à saúde, incluindo a imunização de doenças comuns, são bastante complexos. Para colaborar com a superação do desafio da vacinação contra Covid – 19 em áreas remotas, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio do Projeto OTCA Biomaz, promoveu uma série de ações de apoio à vacinação de populações indígenas de fronteira dos países amazônicos.
Ao lado do Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI (órgão local do Ministério da Saúde responsável pela atenção à saúde indígena) e da ONG Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPÉ), o projeto apoiou a instalação de equipamentos de refrigeração e promoveu atividades de capacitação de agentes indígenas de saúde.
Além de fundamental para a conservação de vacinas contra a Covid-19 e outras enfermidades, a rede de refrigeração alimentada por energia solar instalada em seis aldeias do Tumucumaque, possibilitará a imunização de um número maior de pessoas, estejam elas de passagem pelos postos de saúde ou sendo atendidas por equipes itinerantes.
Durante as capacitações de Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e de Saneamento (AISAN), realizadas nas aldeias Missão Tiriyó (Tumucumaque Oeste) e Bona (Tumucumaque Leste), as pessoas participantes puderam ampliar seus conhecimentos sobre os sintomas da Covid-19, aplicação de testes rápidos e observação e necessidade de encaminhamento de casos suspeitos. Elas também receberam informações sobre estratégias de comunicação em educação para a saúde e a importância do diálogo com as comunidades a respeito de vacinação e notícias falsas que aparecem causando desinformação sobre as vacinas que são aplicadas.
Um aspecto de destaque das atividades de formação é que elas também incluíram jovens voluntários que um dia poderão se tornar agentes indígenas de saúde, ampliando o impacto da educação em saúde para as famílias, incluindo os indígenas que transitam na fronteira vindos do Suriname.
De acordo com dados de 2022 do DSEI, a população total das Terras Indígenas Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este beneficiada com a instalação da Rede de Refrigeração e com as capacitações de Agentes Indígenas de Saúde e Agentes Indígenas de Saneamento é de 3.680 pessoas, distribuídas em 818 famílias (2.312 pessoas e 519 famílias no lado oeste do Complexo Tumucumaque, e 1.376 pessoas e 299 famílias no lado leste).
Equador
Agentes comunitários e coordenadores comunitários indígenas de saúde possuem um papel extremamente importante no acompanhamento das equipes de saúde itinerantes, na comunicação com as comunidades, na tradução de idiomas indígenas e na identificação de casos suspeitos.
Por isso, a OTCA e a Cooperação Alemã também se fizeram presente em outra região fronteiriça na Amazônia. Em parceria com o Ministério da Saúde Pública do Equador (MSP) e a Rede Internacional de Organizações de Saúde (RIOS), o Projeto OTCA Biomaz apoiou ações de capacitação de profissionais, agentes indígenas comunitários de saúde e lideranças, assim como a compra de equipamentos e materiais para apoiar a conservação adequada de vacinas e os serviços prestados pelas equipes.
No Distrito 16D01, em conjunto com Nacionalidade Sápara do Equador NASE eda Direção Nacional de Saúde Intercultural do MSP, as atividades consideraram uma abordagem intercultural. Um total de 252 profissionais de saúde que atuam entre os povos indígenas da região foram capacitados em estratégias de comunicação intercultural, ou seja, como trabalhar com povos distintos, questões linguísticas e comportamentos adequados.
Já as capacitações voltadas a agentes comunitários indígenas de saúde e representantes de 23 comunidades Sápara trabalharam temas relacionados à prevenção da Covid-19 e de outras doenças infecciosas, estratégias de comunicação em saúde, importância da vacinação e a organização do serviço de atenção primária à saúde indígena. No total, 30 agentes comunitários foram capacitados e cerca de 900 indígenas foram sensibilizados para atuar como replicadores em suas aldeias em temas relacionados à prevenção de doenças, desinformação relacionada à vacinação e educação em saúde.
A atuação dos agentes comunitários se reflete diretamente na efetividade das ações atenção à saúde. Um dos resultados indiretos das oficinas de capacitação foi o reconhecimento da importância desse trabalho pelo Ministério da Saúde Pública do Equador, que quer incrementar a presença do governo nas comunidades remotas e realizar esforços para incorporar esses agentes ao serviço de atenção básica.
Juntamente com as oficinas de capacitação e sensibilização, as equipes de saúde apoiadas pelo Projeto OTCA Biomaz aproveitaram para visitar 13 comunidades indígenas da região, aplicando 366 doses de vacinas (41 delas contra covid-19), e realizando 582 atendimentos médicos e 396 atendimentos odontológicos.
Beneficiando 23 comunidades e cerca de 1200 pessoas, dois postos de saúde em Wirima e Conambo também receberam kits com geladeiras movidas a energia solar, equipamentos de proteção individual para as brigadas itinerantes, caixas frias e material de apoio ao transporte de vacinas e materiais de apoio aos serviços médicos.
Peru
Cumprindo seu objetivo de promoção e apoio à vacinação em Covid-19 de populações indígenas de fronteira dos países amazônicos, o Projeto OTCA Biomaz também apoiou a modernização de dois postos de saúde na região de Madre de Dios, no Peru, na fronteira com a Bolívia, na Amazônia Peruana.
Baterias, inversores solares e caixas térmicas para transporte de vacinas, insumos específicos para a prevenção da Covid-19 (testes, máscaras e dispensers de álcool) foram enviados para os postos de saúde localizados nas comunidades indígenas de Palma Real e Sonene, beneficiando 320 e 110 pessoas, respectivamente, todos indígenas do povo Ese Eja.